quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Projeto Navegar parte para a última etapa, Rumo a Montevidéu

O Nacional

Rumo a Montevidéu

Grupo partiu ontem para última etapa do projeto Navegar

Créditos: GERSON LOPES/ON
Rumo a Montevidéu
Grupo deve levar 10 dias para chegar a Montevidéu
Percorrer pelas águas do rio Uruguai os cerca de 1,3 mil quilômetros que separam Iraí, no Rio Grande do Sul, de Montevidéu, será o desafio da oitava e última etapa do projeto Navegar Rio Passo Fundo – da nascente ao mar. Os 15 integrantes da expedição, entre alunos e professores, partiram ontem à tarde em direção à capital uruguaia. Antes do embarque, eles reuniram a imprensa na sala Futura para falar sobre as etapas anteriores e a logística da viagem. Desenvolvido pela escola Cecy Leite Costa, em parceria com o Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (Gesp), o projeto teve início em 19 de outubro. Durante os três meses, os integrantes percorreram toda a extensão do rio Passo Fundo, desde as nascentes, em Povinho Velho, passando pela área urbana, até a divisa com Santa Catarina. “ Algumas fases foram realizadas a pé, outras com barco a motor, balsa, e agora com utilização do veleiro” afirma Paulo Fernando Cornélio, representante do Gesp.

Um relatório, incluindo análises de água coletadas em diferentes trechos, situação da vegetação, fauna e flora, será elaborado e entregue ao Ministério Público, Prefeitura Municipal e ao Comitê de gerenciamento da bacia hidrográfica do rio Passo Fundo. Natural da cidade italiana de Valvasone, próximo a Veneza, a estudante Eleonara Peruch, 17 anos, certamente terá boas histórias para contar quando retornar ao seu país. Aluna do 3 º ano do ensino médio, ela participa há cinco meses de um intercâmbio na escola Cecy Leite Costa. Assim que soube da possibilidade de integrar a expedição, não perdeu tempo. “Estou muito contente em poder participar de algo assim. Vou navegar num barco que eu mesma ajudei a construir” relata em português.

O veleiro que a italiana se refere é uma das embarcações utilizadas na viagem. Ele foi totalmente construído com material reciclável na própria escola. Com capacidade para cinco a seis pessoas, pesa entre 150 a 180 quilos. Na parte do casco foram utilizadas cerca de 60 varas de taquara. O fundo foi preenchido com 1,2 mil garrafas pet. Já avela, medindo 5,7 metros, é toda confeccionada com tecidos retirados de guarda-chuvas. Além do Cecy, a expedição contará com um segundo veleiro, também construído na escola, mas revestido com fibra.

Idealizador do projeto e responsável pelas embarcações, o professor Antônio Carlos Rodrigues, disse que o mais importante da iniciativa é desenvolver um outro olhar para o rio Passo Fundo, para que as pessoas conheçam suas belezas e sintam a necessidade de preservá-lo. “Passamos por trechos belíssimos, precisamos dar essa visibilidade ao rio” comenta. Sobre a logística da viagem, o professor explica que a turma será dividida em duas equipes. Elas devem se revezar ao longo da viagem, entre trechos de navegação e o caminho por terra. Para garantir uma boa comunicação e localização, o grupo está equipado com rádios amadores e GPS. A intenção é navegar durante o dia e montar acampamento às margens do rio à noite. A chegada em Montevidéu está prevista para ocorrer dentro de 10 dias.
Aula na prática
Junto com o aprendizado sobre o meio ambiente, os alunos poderão ampliar o conhecimento na disciplina de história. Para isso, terão a companhia da professora da escola estadual Fagundes dos Reis, Eloni Ferri. “Vamos passar por cidades importantes como Buenos Aires, Colônia do Sacramento e Montevidéu. Esses estudantes terão oportunidade de fazer uma leitura ampla integrando as duas disciplinas. É sem dúvida uma viagem que vai ficar para a vida deles, para o futuro” prevê a historiadora.
Para o professor de biologia, Angelo Vinícius da Rosa Peres, outro integrante da expedição, a viagem é a oportunidade de observar na prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula. “Encontraremos pelo caminho, assuntos de botânica, zoologia, observação da flora e fauna. Esse contato com a natureza é o mais importante” ressalta.

Imagens Relacionadas:

Clique nas imagens para ampliá-las.











-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Diário da Manhã
Projeto Navegar na reta final
A última fase do programa reserva uma viagem com mais de 1.200 km pelo Rio Uruguai em direção de Montevidéu
Alessandra Pasinato – jornalista
Julia Possa – estagiária
julia@diariodamanha.net


Por terra, o caminho é de 2800 km. Por água, mais de 1200 km. É essa a fase final do Projeto Navegar, programa que mescla educação com meio ambiente e que leva agora 15 pessoas para uma aventura até o Oceano Atlântico, seguindo pelo Rio Uruguai com destino a capital uruguaia, Montevidéu. O projeto – que partiu ontem (7) e tem retorno previsto para o dia 17 deste mês – já percorreu mais de 200 km com viagens de ida e volta entre Passo Fundo e demais locais de preservação. A iniciativa envolve alunos e professores das escolas estaduais Cecy Leite Costa e Fagundes dos Reis, além de ecologistas e biólogos especializados.

Conforme o diretor do Grupo Ecológico Sentinela do Pampa, Paulo Fernando Cornélio, serão observadas durante o percurso o estado das matas ciliares e de lavouras, trazendo amostras de todas as áreas percorridas. “O papel do projeto é também técnico-científico”, afirma. Um desafio e uma aventura: quem embarca nesta caravana volta acompanhado de novas experiências.

O descobrir 
Animadas, as estudantes do terceiro ano do Ensino Médio, Emanuele Rasche e Karen Cristini de Souza, relatam que, desde o início do projeto, os acontecimentos transformaram seu jeito de pensar. As duas fazem parte do grupo de seis alunos que embarcam na viagem. Com as malas prontas, elas contam que desde o começo o projeto chamou a atenção por colocar em prática toda a teoria aprendida em sala de aula. “Aprendemos mais. O que eu mais gostei foi todo o conteúdo aprendido, coisas que os professores explicaram, não só em relação a água, mas também no convívio com os outros. Agora com a viagem, espero que aprendamos ainda mais”, conta Emanuele.
Fora da sala
Os professores concordam com a aluna. Dentre eles está Ângelo da Rosa Peres, que também vai acompanhar a viagem. Para o licenciado em Biologia, a oportunidade é importante por mesclar educação com meio ambiente. “Isso gera frutos que poderão ser colhidos no futuro. Tenho certeza que a gurizada vai ajudar na preservação do meio ambiente”, relata animado. Sair da sala de aula, escapar da teoria e ter um aprendizado na prática são apenas alguns dos benefícios do programa. “Os alunos ficam mais interessados, mais participativos, entendem melhor, falam mais. É sensacional”, elogia.

Segundo ele, por questão de equipe, estar em contato com o outro é sempre importante na formação dos alunos. “Não só ver novos ambientes, mas preservar o convívio com os demais. É bom conhecer o aluno fora da sala de aula e estar em contato com os demais colegas do projeto”, finaliza o professor.

(Equipe que faz parte da caravana / FOTO JULIA POSSA )

Estimulada por este contato, Emanuele pretende seguir carreira na área. “Eu pensava em fazer Design Gráfico, mas agora mudei totalmente de ideia e vou para a Biologia”, afirma. Enquanto isso, Karen está resolvida e vai para a Medicina Veterinária. Mesmo que não seja o mesmo curso, as amigas pretendem seguir juntas com o projeto. “Você acaba tendo uma visão diferente de tudo”, encerra a futura bióloga.
Intercâmbio
Quem também está neste meio é Eleonora Peruch, que veio da Itália como intercambista e participa do projeto aqui em Passo Fundo. Para ela, a experiência conta muito na sua passagem de um ano pelo Brasil. “Nunca pensei que ia achar algo do tipo aqui, ainda mais essa experiência de aventura e estudo”, relata. Para ela, poder estar incluída no programa representa muito. “Essa é uma experiência que eu nunca vou esquecer e que com certeza vai ajudar nas escolhas do futuro”, justifica.

Os barcos 
Os dois barcos que estão sendo utilizados no projeto são um capítulo a parte. Ambos foram desenvolvidos pela equipe com ajuda de engenharia náutica e contam apenas com materiais reutilizáveis. “As velas foram tiradas de guarda chuvas. Tudo que possuímos foi utilizado com material reciclável, inclusive muitos desses materiais terem sido tirados do próprio Rio Passo Fundo”, destaca Cornélio.

Além disso, eles também contêm garrafas pet, madeira, taquara, madeira náutica e isopor. “Queremos mostrar com isso o que a população anda colocando dentro do rio e, com alguns desses materiais, estamos fazendo um equipamento de navegação”, pontua o diretor.

Ao todo, foram utilizadas 800 pets cheias de CO2 (gás carbônico). A equipe também conta com ajuda de pessoas qualificadas com cursos de raias e rádio amador, em função da comunicação e manutenções possíveis no decorrer da viagem. No mais, o apoio recebido de pais de alunos também foi fundamental. “Tivemos ajuda muito grande com o barco. Com todo o material, oito pessoas podem navegar tranquilamente”, finaliza.
A viagem 
As 15 pessoas que embarcam na viagem contam com o auxílio de dois barcos, dois carros e duas vans. O caminho será revezado em grupos - enquanto um grupo percorre por água, outro fica em terra monitorando o caminho dos demais com rádio amador. Haverá viagem durante o dia e acampamento no turno da noite. A visitação de cidades histórias também está inclusa no projeto.